sexta-feira, 20 de março de 2009

No Caminho, com Maiakóvski


Eduardo Alves da Costa
No Caminho, com Maiakóvski
Eduardo Alves da Costa
Assim como a criançahumildemente afagaa imagem do herói,assim me aproximo de ti, Maiakóvski.Não importa o que me possa acontecerpor andar ombro a ombrocom um poeta soviético.Lendo teus versos,aprendi a ter coragem.
Tu sabes,conheces melhor do que eua velha história.Na primeira noite eles se aproximame roubam uma flordo nosso jardim.E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:pisam as flores,matam nosso cão,e não dizemos nada.Até que um dia,o mais frágil delesentra sozinho em nossa casa,rouba-nos a luz, e,conhecendo nosso medo,arranca-nos a voz da garganta.E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correma ninguém é dadorepousar a cabeçaalheia ao terror.Os humildes baixam a cerviz;e nós, que não temos pacto algumcom os senhores do mundo,por temor nos calamos.No silêncio de me quartoa ousadia me afogueia as facese eu fantasio um levante;mas manhã,diante do juiz,talvez meus lábioscalem a verdadecomo um foco de germescapaz de me destruir.
Olho ao redore o que vejoe acabo por repetirsão mentiras.Mal sabe a criança dizer mãee a propaganda lhe destrói a consciência.A mim, quase me arrastampela gola do paletóà porta do temploe me pedem que aguardeaté que a Democraciase digne aparecer no balcão.Mas eu sei,porque não estou amedrontadoa ponto de cegar, que ela tem uma espadaa lhe espetar as costelase o riso que nos mostraé uma tênue cortinalançada sobre os arsenais.
Vamos ao campoe não os vemos ao nosso lado,no plantio.Mas ao tempo da colheitalá estãoe acabam por nos roubaraté o último grão de trigo.Dizem-nos que de nós emana o podermas sempre o temos contra nós.Dizem-nos que é precisodefender nossos laresmas se nos rebelamos contra a opressãoé sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,por temor aceito a condiçãode falso democratae rotulo meus gestoscom a palavra liberdade,procurando, num sorriso,esconder minha dordiante de meus superiores.Mas dentro de mim,com a potência de um milhão de vozes,o coração grita - MENTIRA!

Um comentário:

Isabela Pimentel disse...

Muito interessante a idéia!

Adoro Maiakóvski